quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Do nosso segredo

eu que me rendi
a vários espíritos

me rendi à escuridão do retiro
em que minha alma se fez Legião

vem, e sente que dos meus olhos
doentios
não há mais amor: o sangue que te seca dentro
nem é veneno

é que te contratamos
enquanto me desejavas
nem era desejo: era a forma melhor
de fechar teus olhos.

Nós que nos reunimos na madrugada e no dia quente, no sol a pino descemos e tu descobrirás do melhor inferno. As caveiras estão sós. Isto é parte de nosso segredo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Alimento

Não deixarei de me alimentar de ti
nem deixaremos-te
a sós.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Eu e nós.

de alguns eu tenho
dito

cujo nome
éramos nós

e tu aceitaste
desprevenido

ou prevenido
se nos separarmos

já não posso contra o teu ouvido
e tenho sido frágil
nos dias de então
sou-te leão
e um cão que adormecido late.

eu que consigo à força
um amor conjunto

me uno
ao infinito que somos
nós

(e durmo).

sempre.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Morre-te nos.

lembre-se
legionário

que no dia em que roubei-te
vida, tu entraste em mim

e neste dia, legionário
tu conheceste a morte

e a morte
era doce e bela

(como deveria ser: eu te dei vida)

ou nós.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Ataque

ainda
que
fosse possível
proteger-te

liberta teu corpo e suor
meu amor já me tens dado

e
a seiva

enquanto é perversa a natureza
não é também
boa:
em nos te ofertar?

o pó e o líquido.

Não que fosse armadilha
que amor, meu amor,
acaba

e já sabíamos.

e nós sobrevivemos
por muitos
ataques.

(que não havia misericórdia sobre um, quando um são vários, e vários é a lei)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

embaixo da terra

nós que chegamos
não partiremos

nosso leite derramado
sob
a terra

brota.

e come-nos

pelo
que
vivemos

sábado, 3 de setembro de 2011

Deixa

desta vez
quando
os mortos voltarem

deixarei a porta aberta

desta vez
quando eles
voltarem

não rezem
não orem

deixa entrar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

In'migo


não
inimigo
o teu espírito de porco

esteve assado.

e sobre a mesa um prato
em que em teu fígado
finquei

as últimas pragas

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Eu vivo.

que em guerra
vencemos

e nela, nunca mortos
por que vivos em tua lama
somos

por que vivos em teu sangue
vivemos

e nele: seguramos o infinito

por estar dito: em cujo dito nunca houve escrito
que éramos muitos e chegamos

que eu era um
e em ti fiz pacto

como unha e agulha se atingem.

eu vivo
nós vencermos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Venci.

Desta vez
que venci.

te matei não apenas
mas enterrado e morto
mais
o
espírito.

o que dói já doeu
de te partir
de nós: quéra maior
de
mim.

O espírito enfraquecido após a morte do adversário chora.
E em poucos momentos, depois de uma tamanha batalha
talvez, pela alegria do acontecido, tenha se recuperado
rápido demais.

- que a vitória nos dá teu éter a nós.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

próximo ao fim

quer dizer, dragão
aceita o pescoço e a mucosa

que lhe entrego
sem forças
que me entrego

e este sacrifício
una
daquilo em que o espírito era sombra
e mostra: ao menos, a derrota.

se esta é a fraqueza
nítida da
morte.

(minha morte).

se já morri
há tanto aqui

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Àqui viemos

Receba-nos
porque somos
vários
Conceda-nos
de teus sonhos e vícios
Doe-nos
a carne e os ouvidos

Receba-nos
porque somos
muitos em comunhão
e teu corpo úmido
perpétuos
possuímos - possas tu
unir

t
e
u

espírito único.

Espia-nos
e em expiação
farás parte

Porque cuidamos
de teus sigilos
e neles estamos vivos.
(nós e tu)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

segredo

que o meu segredo
fosse nosso
em te matar aos poucos
e aos porcos

longe de mim
e tão próxima
a separação.

habitam-nos a guerra e a ferida
ou não sabes, que são nossos
o
dia do Cão.

nem à luta vou
porque estás ferido
ouço: teu último grito.

e lamentava, por pouco, não ter
segurado teus ombros: tão cansados secaram

prometo-lhe ainda
toda a dor
porque o vampiro sou eu
e tu ainda
prometo-lhe
não deixar uma gota do teu sangue
em mim

ou por dentro
até a morte
me despedir em silêncio.

terça-feira, 12 de abril de 2011

partida


porque partia em dois
nossa coroação

e aquilo que foi deixado
atrás
ficará à frente

em minha cena infantil
sonho que delira nos infernos: da carne eu superei o feto.
estava lá: meu tardio coração.

legionários, não temam o futuro
ele está posto a vós
e nós sobrevivemos mesmo
depois
desta morte
que a todos (nos) liberta.

se jaz o prometido:
- erguei-nos aqui.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

perpétuos


Perpétua é a guerra
ingênuos
que são
àqueles que nos perseguem
e os que se inocentam
fechando os olhos

nós
estamos aqui

e para que saibam:
há o tempo de descanso
e aquele em que se lê

há o tempo de ataque: e este que de sangue corre
(parece espirro, não?)

misturado
há suor

e lágrimas, legionários, não nos servem mais

este sangue que nos chama
este é o sangue que vos põe
e vida treme
e vida seca
em nós: nem amor ou ódio
somos o reino novo.

Sim, legionários, a guerra
mal
começou.

e ousas tremer meu corpo e meus dentes
na madrugada
ousas ainda me ver febril
eu que sou nós.

ousas me por em tal estado que de frágil
só o sono repousante: em que durmo tranquilo
e minha alma se une
e une a outra que a outra se ampara
e daí: a guerra cala.

- dai-nos de ti.

terça-feira, 29 de março de 2011

porque de eternos seremos logo depois


posto estar na hora de partir
part
i
rei
(e contigo)

assim que indo embora
me evoca

e nem sei
quando voltamos

mais.

o tempo é que nos dirá
porque findo aí
findo aqui de me pesar.

assim que eu de encontro a ti
já fiz tudo
o que deveríamos nós

tu que nos tornaste
um

e fomos nós - ainda separados.

- está previsto, ou prometido
que iria contigo
mesmo em teu fracasso:
ou fracassamos juntos
por
nossa vitória.

sábado, 12 de março de 2011

Universo Cujo

este universo
cujo
nome mataste
tantos.
este universo teu
cujo
mataste
o nome
e tantas vezes
creste
em que pudesse
ao universo
voltar
embora cujo
nome
nunca mais
seria.

(ou teria teu)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Deixa-nos


Este sentimento
lambido em teu dorso
somos nós

o medo: arrepio dos fracos:
- deixe-nos entrar.

o tempo: em que estamos aqui
e cada um de nós
que parimos em amor
o suor dos fracos
(ou desacreditas)

quantas vezes batemos em tua porta:
e continuamos a bater
noite a noite

sol a sol: a boca aberta em que nos respira.

dá-nos de ti
e te damos vida

deixa a passagem correr febril e os teus olhos todos nossos pelo que entramos em teu desespero e espirramos o sopro eterno e os desejos e as vontades todas possíveis e os nossos membros que te abraçariam até a morte a passagem e os mistérios deixa que contemos e um a um de seus segredos renasciam como era tempo o breve da vitória (muito tempo).

fecha a porta. esquece que te ensinaram. aceita-nos por baixo da cama
somos vários.


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Aqui

nós já entramos

conforme estamos

para formar o exército.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sol


se anotamos o teu
nome no cabeçalho da morte

se anotamos teu endereço
na boca que morre

o suspiro que te ampara
antes de tudo: era o hálito que nos dava

este respirar tão sagrado e último
que tanto gozávamos ao beijar

laminavas todas estas separações
entre tu e o que foste:
estávamos nós

e te amparamos
te embalamos em nós
e de nós fizemos

legião! não desespera ainda
que o sol quente
a pino nos sombrea a face
e dita:
ainda que haja sol somos a tua espinha.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A gente.


o que fiz do teu corpo
o que encharquei do teu sopro
que te conheci no assombro

e sobrevivi-amos

Amamos tanto que um de nós cresceu
Amamos tanto que um de nós: éramos um ou outro.

Deixavam os
atómos
e poeiras por aí: contaminam os
muitos
e muitos de nós

crescemos.

o que o amor transformou em ódio
o ódio transformou na gente.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Nós já estamos aqui.


Desexistir
às religões

Desisti-las de nós.

entregá-las
ao

f
i
m.