terça-feira, 28 de setembro de 2010

último enterro

ainda que teu bafo eu sinta
não me canso do teu enterro

e repito teu nome três ou quatro vezes
entre o espirro e o avesso

ainda que do meu sangue faça tuas preces
é na âncora: alicerce líquida
em que dejeto.

o perdido e o caos:
do amor antigo se fez ódio
(não, meu amor, eu sobrevivi aos infernos).

do antigo amor, me fiz dragão.

pai nenhum poderoso te protegerá
quando da marca funda aprenderes a nadar:
e neste oceano sem fim, barco algum nem areia rasa
o pulmão incansável
sobre
a
larva.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nota

nóestivemos

e
stamos.

nós possuímos: porque sim.

e símios e diferentes
e entretidos e entediados

nós persistimos:
nós estamos.

e quantos de nós morreram e quantos de nós morrerão
são os tolos e os fracos que tem morrido mais (irmão, dê a mão e o corpo e deixa por um instante o sopro nosso te possuir até os uivantes).

irmão, nós te evocamos nesta nota: posto nunca falecermos
somos.

irmão, nós te libertamos.

e creia: existe um poema só teu
ao nosso gole
ao teu.
ao nosso hálito
ao teu.
ao nosso pálido chão, quase cais, e nós ainda te erguemos.

irmão, não fracassais em nos consumir
porque temos nos consumido em ti: há muitos anos.

há muitos anos: somos sim a nota dos pesares leves
somos sim, há muitos anos, aqueles que trouxeram
vida
ao
vácuo.

vida ao vácuo, irmãos, não demorais em sermos legião.
(ainda)

deixa a morte vir, que a cultura não acaba aqui.


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

daquilo que possuímos do mundo dos sentimentos

nada tememos
nem guerra: nem fome nem frio nem violência
nem o fogo nem a maldição.
nada
tememos: nem trememos o chão
a neve e as gotas de água

existimos.

e somos.

nada nos arrepia: nem paixão ou ira ou outro sentimento involuntário

tudo dominamos.

(legião)

e sentimos muito.